Há pouco lia que as palavras que o escritor escreve, a
partir do momento que as coloca no papel, deixam de lhe pertencer. Isso fez-me
pensar. Num comboio a mais de 120 quilómetros por hora, olho pela janela e
penso. Observo quase tudo o que passa, ou nada. Acho que quando olhamos pela
janela, apenas olhamos para o vazio. Olhamos para dentro, julgo eu. Ou então,
apenas acontecerá a mim. Olho para o lado contrário, para a pessoa que está junto
a mim. Neste caso, mesmo quase colada, ela lê. Digo isto porque hoje viajo na
classe turística. Hum?!? Não, não sou pretensioso. Apenas porque me habituei a
viajar na classe conforto. Mas hoje, face ao timming na marcação da viagem, assim aconteceu. Continuo a observar
a minha “vizinha”. Agora ela, inspirada pela minha sintonia, desenha. Haverá
quem possa ler o que acabei de escrever ”sintonia” e não perceberá o sentido.
Sinceramente, os interessados vão alcançar o sentido, o significado. Os outros,
esforcem-se. Já tentei ver o que desenha mas não consigo perceber. Curioso, não
consigo vislumbrar sequer o que ela rabisca com um simples lápis laranja.
Começou tal e qual, como alguém levemente inspirado, rabiscando, esboçando
algo, isto de início. Agora, tal e qual uma profissional, com canetas de filtro,
uma azul, outra preta, vai desenhando, esboça, pára e observa a “obra”. Presumo
que avalia o que acabou de desenhar.
- será que está bem - pensa ela.
- podia estar melhor – avalia
- acho que é isto – conclui.
Dá uma última olhadela e resolve, dobra a folha onde esboçou
algo, não consegui perceber o quê, e mete a folha dentro do livro que apenas
leu duas páginas. Acho que o livro lhe deu o que ela precisava, inspiração.
Deve ser parecida comigo. As simples coisas, às vezes as mais simples,
inspiram. Assim aconteceu com ela e comigo. Acho que já cheguei, ou quase.
Obrigado “vizinha”!!
20/03/2014
Sem comentários:
Enviar um comentário