Às vezes é preciso dar um passo atrás, para conseguir e estar-se preparado, para dar dois passos em frente.
Quando ele ouvia aquela pessoa a falar à sua frente, de alguma forma ele bebia todas aquelas palavras. Tentava que, nem uma única pinga se possa perder, de toda daquela sabedoria. Naquele momento, via-se perante um manancial de sabedoria que não podia perder a nenhum custo. Por isso, de forma consciente, tentava relaxar o seu corpo. Queria despertar todos os sentidos do seu ser. E que, após aquele agradecido momento, ele, sentir-se-ia mais rico. Naquele momento, sentia-se apenas como um milionário, após ter-lhe saído o jackpot no Euromilhões. A dor e a desilusão da sua doença, o desgastaram. Assim que soube, na altura, como que baixou os braços e deixou-se levar. Arrastado pelo desânimo e pela a ausência de esperança, como num comboio suburbano, foi sentido a ser levado. Isto, devagar e devagarinho, quase sem um rumo no caminho do fim. Nunca lhe deram a esperança da cura, se calhar, nem o remédio. As conversas com outros doentes, as queixas, as lamúrias, sempre o foram alimentando na sua ausência de esperança. Os médicos por vezes, às vezes ou sempre, são como as cerejas. Certo é que o caminho foi longo, custoso, muito longo. Agora, há esperança, há um foco, um sentido. Vai acontecer o que tiver de acontecer, isso ele sabe. Mas acredita que, o que vai acontecer, vai ser bom. Só pode. Na prática e bem lá no fundo, ele sempre soube, sempre sentiu que ia conseguir e que ia vencer.
