A noite fazia-se já longa mas ainda assim, Ele estava no
bar do hotel. Tentava trabalhar mais um pouco no assunto que o tinha levado até
ali, àquela situação. Afinal, já que lá estava, tinha que absorver o sumo da
“coisa”. Era algo que não lhe apetecia fazer, mas tinha que ser feito. Apesar
de pensar que apenas ele o podia fazer, na verdade, ninguém mesmo o podia
ajudar. De facto era assim. Nesse sentido, porque quando se metia em algo, entregava-se
por inteiro, pretendia levava-lo até ao fim, não podia nem pensava de outra forma.
Não iria entregar as fichas. Pois sabia que apenas no dicionário o Sucesso aparece
antes do Trabalho. Costuma, não é às vezes, é sempre, dar o máximo. O que tem
e, tão inúmeras vezes, o que não tem. A dor, o cansaço, são para ele, factores
secundários e apenas circunstanciais, nada o afectam. É algo com que há já muito
se acostumou a ter. São coisas absolutamente necessárias que o fazem crescer e com
as quais vive bem.
Às vezes, parava e ficava a pensar, sobretudo a sentir. Sentia-se
como uma esponja em que tudo absorve. Sempre foi assim. Desde miúdo ficava a
olhar de forma tão atenta e focada, como se com fome de ver estivesse, que
chegou a ter problemas com outros miúdos por ficar assim tão atento a olhar.
Todos os momentos têm a sua importância e sobretudo uma razão de ser. Daí, apenas
em todas as circunstâncias, tentava sugar tudo o quanto conseguia. Sugava
aquilo que não se vê e não se pode tocar. Aquilo que se calhar, tentando
explicar de viva voz, prefere não o fazer. Nem sabe se o consegue. A vida para
ele, é apenas mais um meio para atingir um propósito. Ao contrário daqueles que
com a vista reduzida ou melhor, sem ver, julgam a vida é apenas para chegar ao
fim.
Foi chegada a hora, depois de se saciar neste banquete,
como que desligando, levantou-se e saiu.